"Sobre fotografia, com mais ou menos poesia".

O Parque das Emas, a caça e o dilema das Unidades de Conservação

As duas imagens abaixo foram feitas no entorno do Parque Nacional das Emas: a do Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), atropelado na rodovia GO-341, próximo à portaria do Jacuba, noroeste do Parque; e a da Anta (Tapirus terrestris), morta a tiros no Córrego do Ranchinho, Reserva do Tamanduá, em Chapadão do Céu, distante apenas 1 km da cerca sul do Parque e da portaria do Bandeira.


Há entre as duas uma diferença importante: o Lobo-guará é uma vítima habitual nas rodovias que cortam seu habitat natural. Pressionados pela ocupação humana no entorno das unidades de conservação e mesmo longe delas, os bichos cruzam constantemente o asfalto perigoso e milhares morrem atropelados. Falta de fiscalização rigorosa dos órgãos competentes – Polícia Rodoviária Federal ou Polícia Militar Rodoviária Estadual – da velocidade nas rodovias do seu entorno.


Já a morte da Anta a tiros representa uma renovada ameaça à fauna, principalmente próximo às Unidades de Conservação. Renovada porque o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autorizou há alguns anos o abate do Javali, espécie invasora, agressiva e territorialista, que vem causando prejuízos significativos às lavouras e se reproduz vigorosamente. Com essa autorização, proliferaram os caçadores armados com todo o tipo de armas de fogo que, além de não respeitarem a regulamentação da caça – cadastrar-se no Ibama, ter o registro de sua arma regularizado junto à Polícia Federal etc – atiram em veados, tatus, queixadas, catetos e todo o tipo de fauna que cruza seu caminho. Certos da impunidade, gerada pela mais absoluta falta de fiscalização por parte do Ibama e das polícias locais, a atividade de caça expandiu-se em níveis alarmantes. É comum, hoje, principalmente no entorno e algumas vezes dentro do Parque das Emas, caçadores irresponsáveis abaterem a tiros exemplares preservados por lei, como a anta do Córrego do Ranchinho, sem nada que os gestores locais do Parque possam fazer, pela permanente escassez de recursos.

A curto prazo, talvez a solução seja a revogação da autorização de caça ao Javali, enquanto os técnicos do Ibama, conjuntamente com a comunidade afetada pela perda econômica nas lavouras pela atividade do animal, pensam em outra maneira de limitar suas ações. Esterilização das fêmeas seria um bom caminho, atraindo os bandos para cercados construídos próximos às suas atividades e alimentado-os com milho injetado por esterilizantes, por exemplo.

A continuar como está, brevemente só teremos a lamentar a perda significativa de exemplares emblemáticos da fauna brasileira, sem uma mínima chance de recuperação.

2018

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