Um pequeno círculo de areia branca dentro de uma mata ciliar, com dezenas de pontos de água cristalina borbulhando, saindo do subsolo: era a nascente número 1 do Rio Araguaia, o local mais emocionante, pelo caráter afetivo, que fotografei para o livro “Águas no Cerrado”. Conhecida como Nascente Número 1, por ser a mais a montante do grande Rio Araguaia, símbolo de Goiás e de Mato Grosso, amado e vivenciado intensamente pelo povo goiano, tem o acesso hoje restrito pelo proprietário das terras onde se localiza justamente para evitar o pisoteio pelo gado e o acesso indiscriminado, minimizando assim os riscos para sua sobrevivência.
Cheguei lá com a companhia e orientação do guia Joel e do funcionário da propriedade, Vilmar, que nos orientou nos caminhos difíceis da região das Nascentes do Araguaia, permanentemente ameaçadas pela lavoura que hoje as circundam.
Foi quase um dia inteiro de trabalho, quando aproveitei para fotografar a voçoroca Chitolina, uma das maiores do Brasil, justamente abaixo das nascentes principais, hoje controlada. E ainda tive o bônus de fotografar uma Anta nas estradas entre as lavouras de cana-de-açúcar, praticamente a meia luz, utilizando ao máximo o ISO (parâmetro da câmera, que controla a sensibilidade à luz) disponível para ter um resultado pelo menos satisfatório.
Localizada nos limites do Parque Nacional das Emas, a região das Nascentes do Araguaia hoje é amplamente ocupada pelas lavouras de “commodities” mas ainda tem áreas de vegetação nativa conservadas. Onças-pintadas são mais comuns na região do que dentro dos limites do Parque e isso tem uma explicação: os herbívoros (veados e antas, por exemplo) precisam de sal para o metabolismo. Dentro dos atuais limites do Parque não existem barrancos de rios, fonte natural do sódio. Então eles atravessam o asfalto da GO-341 (onde se expõe a atropelamentos frequentes) em busca dos barrancos fartamente encontrados na região das Nascentes. E os grandes felinos vão atrás deles, que são a parte principal da sua alimentação.
Toda a região das Nascentes era parte integrante da área original do Parque Nacional das Emas. Sua exclusão da área protegida, na década de 1970, para benefício da exploração comercial, colocou estas espécies em contato crítico com as áreas de lavouras.
2018